As notícias da capital paulista dão conta do caos urbano vivido pelo cidadão daquele município. Mesmo com a adoção do rodízio de veículos, o que se vê é aumentar a cada dia os problemas de mobilidade urbana. Alguns especialistas são céticos e apontam, para os próximos anos, a paralisação de todo o sistema. A falta de planejamento de longo prazo, a ausência de eficientes transportes públicos e o aumento do número de veículos rodando nas cidades são as causas mais apontadas para os problemas atuais. O que isso tem a ver com Jaraguá do Sul e o Vale do Itapocu? Tudo! A sociedade civil organizada e o governo dos municípios devem preparar a região para que isso não aconteça aqui.
Os congestionamentos viraram rotina em São Paulo. O rodízio de veículos que vem sendo adotado desde 1997, aparentemente não surte mais efeito. No início de abril, o prefeito anunciou medidas que proíbem a carga e a descarga no centro expandido da cidade, no horário que vai das 05h00min as 21h00min. Anunciou ainda que os caminhões também entrem no rodízio de veículos. A Câmara de vereadores aprovou projeto, que depende de sansão do prefeito, proibindo a total circulação de veículos de carga em toda a cidade nos horários de maior demanda. A Confederação Nacional dos Transportes aponta as medidas como “simplista” e já se movimenta para evitar esta ação.
O site Globo online e o Jornal O Globo ouviram especialistas como o professor Jaime Waismann, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, e este foi categórico em afirmar que devido à falta de planejamento a cidade pode entrar em colapso. O especialista defende que os gestores das cidades devem superar a visão municipal e dividir a solução do problema com outros agentes envolvidos. Segundo Marcos Bicalho, da Associação Nacional dos Transportes Públicos, “as pessoas devem ser desestimuladas a andar de carro pela cidade”. A solução, diz o especialista, “é investir em transporte público, mas como se vê, isso leva tempo e não há perspectiva, a curto prazo. O professor Jaime Waismann afirma que “o governo do estado prevê investimentos de R$ 16 bilhões. Se o projeto for à frente, o metrô ganhará 250 quilômetros de trilhos em São Paulo. Mas isso ainda vai levar anos”. Dados do Departamento de Trânsito daquele estado mostram que a cada 24 horas são licenciados 500 novos veículos na capital paulista. O rodízio retira 600.000 veículos por dia das ruas, ou seja, em um ano a frota pode aumentar em 1.500.000 de veículos, anulando com isso o rodízio.
Na região do vale do Itapocu são licenciados e transferidos perto de 2.200 mês veículos mês. A frota de Jaraguá do sul já conta com mais de 72.000 veículos para uma população de 130.000 habitantes conforme Censo 2007. As restrições geográficas e de meio ambiente limitam as opções de criação de vias de grande vazão. Além disso, para se deslocar, por exemplo, para a BR 101, na maioria das vezes é necessário passar pela região central da cidade. A duplicação da BR-280 e por conseqüência o deslocamento para fora do centro, apesar dos esforços executados, mesmo que se inicie em 2009, pode levar dois ou três anos para se tornar de fato uma realidade. Os municípios de Jaraguá do Sul, Guaramirim e Schroeder estão conurbados, e pelo desenvolvimento que a região vem tendo nos últimos anos é questão de poucos anos para que o mesmo aconteça com os outros municípios da região do Vale do Itapocu e da região de Joinville.
Torna-se, portanto, fundamental que a região trace em conjunto um projeto de mobilidade urbana. Os governos dos municípios e a sociedade civil organizada devem empreender para projetar já e executar ao longo dos anos. O ProJaraguá tem avançado nesta questão com a Câmara Temática de Mobilidade Urbana, sendo que cinco grupos de trabalho foram criados, quais sejam: Esforço legal, Engenharia, Educação, Infra-estrutura e Malha Ferroviária. Este último discute aproveitar os trilhos de trem quando for feito o desvio do centro de Jaraguá do Sul e Guaramirim. Pensa-se, por exemplo, em criar um corredor de transporte coletivo através de veículos leves sobre trilho – VLT (Metrôs de superfície), com poucos vagões que teriam o mínimo impacto sobre o sistema viário e ligariam Guaramirim à região oeste/norte de Jaraguá do sul, passando ao longo de instituições de ensino superior, centros da cidades e empresas de forte ocupação de mão-de-obra. A Acijs apontou a duplicação imediata da BR 280 de Jaraguá até a Rodovia do Arroz.
O planejamento estratégico do ProJaraguá (Jaraguá 2030) aponta a necessidade de se integrar o transporte coletivo a um sistema ciclo viário. A política de desenvolvimento econômico de Jaraguá do Sul determina como necessidade priorizar a ligação de grande vazão entre a nova BR-280 e a região Sul (Rio Cerro), conforme previsto no novo plano diretor. Na mesma política, sugere-se que esta ligação se estenda do bairro Rio Cerro até Massaranduba e daí para a cidade de Luiz Alves (SC 413), onde a Amvali priorizou o término da ligação asfáltica, criando um corredor alternativo entre as BRs 280 – norte de Jaraguá do Sul e a 101 – aeroporto e portos de Itajaí e de Navegantes. Nesta mesma ligação, aproveitando a idéia do VLT, pode-se integrar várias cidades por meio do transporte coletivo, desde Navegantes/Itajaí até Guaramirim ou ainda integrar-se com o metrô de Joinville (em projeto). Outra ligação importante, embora voltada para veículos leves, é a ligação entre o Rio Molha em Jaraguá do Sul e Massaranduba, algumas adequações de engenharia podem ser executadas para transformar esta via em opção de acesso para BR 101 via SC 413 ou SC 474 (São João do Itaperiú). No mesmo sentido (ligar BR 101 via SC 474) a ligação de Jaraguá do Sul (Bairro Ilha da Figueira) a SC 413 (Guaramirim) a Ligação asfáltica de Jaraguá do Sul foi concluída em 2007 e a parte de Guaramirim encontra-se em projeto.
O caos se conhece! Como fazer para ele não acontecer por aqui, também! Os especialistas apontam a priorização do transporte público, a integração deste com vários meios de transporte, a participação integrada dos governos e da sociedade civil organizada (sentar juntos para obter solução), a ação regional, a polinucleação dos bairros acabando com a dependência dos centros das cidades, entre outros. Para que seja alcançado o objetivo será necessário iniciar imediatamente esta integração, sob pena de vermos a região se tornar inviável para investimentos do setor econômico, ficando assim os municípios (a população) com o ônus da falta de visão de longo prazo e ações integradas de imediata adoção.
*Márcio Manoel da Silveira – Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico de Jaraguá do Sul – Abril