Criar o maruim em laboratório, para descobrir seu predador na cadeia alimentar e aí desenvolver um produto para efetuar o controle desta praga que provoca coceira intensa, dores, infecções de pele e até mesmo problemas de circulação, e que deixou de ser exclusiva das áreas rurais para infernizar também a população das áreas urbanas. Este é o maior desafio do biólogo Luiz Américo de Souza, que vem realizando estudo na tentativa de descobrir uma forma de diminuir a incidência do inseto na região.
O biólogo, funcionário da Fundação Municipal 25 de Julho, de Joinville, esteve na sessão da Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul de quinta-feira (24 de setembro), quando explicou o projeto que vem desenvolvendo em parceria com a Associação dos Municípios do Vale do Itapocu (Amvali) e o Instituto Grade de Ciências Básicas (IGCB), de Schroeder. O convite partiu do vereador Jaime Negherbon (PMDB), que demonstrou preocupação com a situação verificada nas comunidades rurais, em especial com os bananicultores.
Luiz Américo recordou que o projeto de controle do maruim é um desejo da Amvali há alguns anos. Ele decidiu se envolver no mesmo em 2006, quando assistiu a uma palestra de cientista do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Rio de Janeiro, e observou que o trabalho desenvolvido por esta entidade não era exatamente o que os municípios precisam. A Fiocruz ficou cinco anos procurando identificar as espécies (aqui na região a mais comum é a Culicoides paraensis), o que, segundo ele declarou, teria feito em um ano, enquanto a preocupação era justamente com o controle.
Então, o biólogo foi convidado pela Amvali para buscar este controle. Para resolver o problema inicial de infra-estrutura, o prefeito de Schroeder, Felipe Voigt, buscou o Instituto Grade para patrocinar um laboratório. Desde então, Luiz Américo diz que vem driblando as dificuldades climáticas e buscando recursos para o desenvolvimento de seu trabalho. Ele dedica as quintas-feiras para o trabalho no laboratório em Schroeder.
O Instituto Grade se uniu à Amvali para ter um laboratório de ponta, e em maio foi feito acordo de R$ 80 mil para compra de equipamentos, dos quais até o momento foram liberados R$ 28 mil por parte dos municípios de Massaranduba, Corupá, Schroeder e Guaramirim. Américo, que compareceu na Câmara acompanhado pelo diretor executivo do Instituto Grade, Carlos Fernandes, e pela diretora de Pesquisa e Desenvolvimento, Beatriz Luci Fernandes, disse que o trabalho é lento, mas está funcionando.
Destacou o trabalho administrativo de Carlos no levantamento e orçamentos para compra de materiais com menor preço e a melhor qualidade possíveis para executar seu objetivo de criar o maruim em laboratório. O biólogo argumenta que depois da descoberta da cadeia alimentar do mesmo será muito mais fácil se chegar a um produto de combate, a exemplo da descoberta do BTI para combater o borrachudo.
"Enquanto estava picando somente os agricultores e as crianças das escolas rurais tudo bem, mas a preocupação aumentou quando a praga começou a chegar na área urbana", constatou o biólogo, que garantiu que está se empenhando o máximo possível para aumentar a demanda de técnicos para conseguir o quanto antes o resultado que almeja. Por enquanto, ele só tem o auxílio de uma estagiária.
Luiz Américo tentou eliminar o mito de que o maruim tenha forte correlação com a produção de banana, embora estudo feito em 2006 na região tenha concluído que o cepo de bananeira em decomposição se mostrou o principal criadouro de C. paraensis na área em estudo, enquanto que o pseudocaule, o esterco de galinha, a beira de riacho e o chão do bananal não se mostraram bons criadouros.
Ele disse que tem observado que a praga se alastra igualmente no esterco de galinha e de porco, nas hortas em que o esterco é utilizado como adubo e mesmo nos gramados de jardins. Enfim, se o ambiente tiver umidade e temperatura de em média 28 graus centígrados, a proliferação é maior ainda. "Portanto, nem dá pra culpar o bananal por isso", destacou, comparando que há 30 anos Joinville era um grande produtor de bananas e não havia isso. Assim, como na região, o alastramento se tornou mais intenso nos últimos dez anos.
Esta constatação foi feita diante de questionamentos dos vereadores Jaime e Vilmar Delagnolo (PT), curiosos para saber então a que se deve o aumento da praga. Delagnolo chegou a questionar se ela teria relação com a redução de outra praga, a do borrachudo. O biólogo descartou esta possibilidade, informando que o borrachudo não pertence à cadeia alimentar do maruim. A proliferação, segundo ele, está ligada à oferta de alimento encontrada na matéria orgânica, onde é feita a postura dos ovos. E as fêmeas, à proximidade do homem, mamíferos ou mesmo aves, de quem elas buscam o sangue.
A chamada urbanização da praga foi enfatizada pelo presidente da Câmara, Jean Leutprech (PC do B), que perguntou se há relação com a proximidade de cursos de água. Luiz Américo explicou que o maruim, ao contrário do borrachudo, não se reproduz na água, mas nas margens, onde há umidade. Cada fêmea coloca 200 ovos, que eclodem em 15 dias – já foi constatado que algumas larvas ficam até dois anos em latência, esperando o ambiente propício para eclodir – e têm vida de 30 a 45 dias, vivida num raio de no máximo um quilômetro. "Nossa sorte é que só as fêmeas saem atrás do sangue", observa.
Diante da pergunta de Jean se há algum veneno para exterminar a praga, a resposta é negativa. Os estudos no mundo todo são raríssimos. Existem apenas duas possibilidades. Uma seria um contato que o prefeito de Corupá, Luiz Carlos Tamanini, teria em Cuba. E outra desenvolvida por uma cientista em Buenos Aires. "Aguardo ansioso por esta informação, pois se Cuba descobriu mesmo o controle, é mais barato irmos até lá buscarmos do que ficarmos aqui gastando tempo e dinheiro em estudos", observou o estudioso.
O biólogo se colocou à disposição para atender quem quiser conhecer seu trabalho no Instituto Grade, onde ele presta expediente todas as quintas-feiras. Informações: 3374-2073.
Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul – Jornalista responsável: Rosana Ritta – Registro profissional: SC 491/JP