Na última semana de abril, a divisão de Cultura entrevistou Divo Gallizzi (81), que trabalhou na rede ferroviária por 44 anos, 14 meses e 14 dias. É o ferroviário corupaense que mais tempo trabalhou na rede. Ele, ao contrário dos amigos que optaram em aposentar-se em 1975, com a mudança da empresa, de Sociedade Anônima para Companhia, mantida pelo Governo Federal, optou por ficar trabalhando e isto inicialmente lhe trouxe prejuízos, mas recuperados ao longo dos anos, quando aposentou-se em 1993, aos 65 anos. No salário de ferroviário havia vários benefícios como salário família, quinquênio, horas extras e outros.
No ano seguinte, em julho de 1976, Divo recebeu a declaração de que era Servidor Público Federal, ocupante do quadro extinto e integrado nos quadros de pessoal da RFFSA, contratação por tempo indeterminado, assegurados direitos previstos nos mencionados diplomas, legislação e previdência social.
Divo nasceu em Corupá no dia 3 de setembro de 1928. Filho de Humberto e Maria Hospedage Gallizzi. Possui oito irmãos: Otilia, Deolinda, Bernardo, Érica, Diva (Gêmea de Divo e falecida aos 9 anos), Maria Inês, Zezina e Orandir. Os pais moravam na rua João Tozini. Divo estudou no Grupo Escolar São José e posteriormente na Escola Teresa Ramos.
Começou a trabalhar no início da adolescência. Aos 12 anos auxiliou na padaria Eickhoff, atual prédio da Revoluta, na rua Jorge Lacerda. No ano seguinte trabalhou na Olaria Herrmann, onde permaneceu por dois anos.
A sua entrada na rede foi por intermédio do pai e do irmão Orandir que já trabalhavam na empresa. Gallizzi ingressou na rede em 1º de outubro de 1945, aos 17 anos, na função de Auxiliar de Artífice classe A, no Departamento de Oficinas. Dos 20 aos 21 anos serviu o exército em Joinville e depois retornou ao trabalho na rede, sendo readmitido em 16 de agosto de 1950, com salário de Cr$ 750,00, no cargo Artífice Mecânico, mestre especial. Começou em Corupá e depois foi transferido para Marcelino Ramos (RS), mas por pouco tempo.
Conheceu a esposa Ursula Worell, do bairro Pedra de Amolar, em 1948, durante os bailes que freqüentavam. Casaram em 28 de janeiro de 1950. Tiveram três filhos, uma menina e dois meninos. Casaram muito pobres. O padrasto de Ursula, Guilherme Steffen, lhes doou um pequeno terreno, na estrada Pedra de Amolar, atual Viação Hansatur. "Nessa época tinha gente muito boa que emprestou dinheiro para que pudéssemos construir a casa, adquirir animais e outras coisas", diz a esposa.
Ursula trabalhava na roça e Divo na rede 24 horas direto para folgar 48 horas e ajudar Ursula nos afazeres da roça. Em 1962 construíram sua casa na rua João Tozini, atual Pastor Lotz, mas venderam em 1975 porque foram morar em Lages. Divo tinha sido transferido nessa época porque houve a mudança da empresa de Sociedade Anônima para Companhia, administrada pelo Governo Federal.
Naquele tempo era difícil. Quando foi transferido para Lages, ficou morando sozinho em uma pensão por três meses. Pensou em abandonar tudo, mas depois Ursula aceitou morar para lá. Em Lages moraram 18 dias dentro de um vagão porque não havia casa para alugar. Nessa época em Lages, comemoraram casamento de prata. Moraram na cidade durante três anos.
Na rede trabalhava na manutenção de máquinas como a Maria Fumaça. "As máquinas tinham que ficar prontas dentro do prazo", diz. O trabalho na rede permitiu que conhecesse bem a região de Mafra e Lages porque fazia manutenção de máquinas nesse trecho.
Seu relacionamento com as chefias e amigos era bom. Lembra dos chefes de trabalho: João Cândido, Wischral, Bruno Scheibel, Guilherme Barbosa. "Eu me dava muito bem com todos. Tinha amizade. Não denunciava e fazia fofoca dos amigos", completa.
Divo fazia cursos e treinamentos na sua área em uma grande oficina em Curituba. Um deles foi treinamento para mecânico de locomotivas por 90 dias, em 1963. A primeira fase foi por correspondência e a parte prática na oficina. Neste curso, Bruno Scheibel também participou. Outro curso foi para eletricista de locomotiva no período de 2 a 23 de agosto de 1965.
Quando Divo e Ursula retornaram para Corupá foram morar na casa do padrasto de Ursula, na rua Werner Weber. Em 2000 adquiriram uma propriedade na rua Roberto Seidel, onde construíram uma nova casa e moram atualmente. A antiga propriedade dos pais foi vendida para Prefeitura de Corupá que construiu a nova escola José Pasqualini. As terras onde está situado o atual CEI Pequeno Polegar foram doadas à escola pelo antigo proprietário Guilherme Steffen, padrasto de Ursula.
Em janeiro deste ano, o casal comemorou 60 anos de casados, bodas de Diamante. Já comemoraram quatro casamentos: verde, prata, ouro e diamante. O casal sempre se deu bem. Tiveram apenas pequenas discussões normais de casais. Talvez a receita é cada um ter as suas atividades paralelas e não brigar. "Ele vai para o seu baralho, eu para o bingo, oase, viagens e outros. Nós respeitamos as atividades um do outro", diz Ursula.
Curiosidades
Na época havia muitos acidentes. O médico doutor Piccione sempre auxiliava no recolhimento dos corpos durante esses acidentes. "Foi um dos melhores médicos em Corupá Fez muito pelas pessoas e não cobrava consulta dos carentes. Era gente boa", destaca Divo.
Divo andou de tamanco por aproximadamente 16 anos. Na época havia poucos calçados e eram carros. A alternativa para a maioria das pessoas era o tamanco de madeira que era resistente e durava muito tempo.
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